É por ti que canto!

“Quanto mais o tempo passa mais eu gosto de ti, este teu jeito de me abraçar, este seu jeito de olhar pra mim, foi o que fez com que eu gostasse logo de ti, tanto assim! É por ti que eu canto (...)”

Esta música embalou os meus primeiros sonhos mais profundos, o meu primeiro desejo de Homem, ainda criança, um dos meus amores... Eram tardes inteiras escutando a musica da minha descoberta feliz de criança! Um rapaz que se descobre rapaz, um macho que se descobre encantado com sua masculinidade atenta e tão naturalmente ingênua, como toda natureza das coisas simples e belas, justamente por guardarem em si a pureza não corrompida da existência subhumana.
Sim, eu sonhava dentro da cama, e fora também dela ... Eu sonhava com os braços de um anjo tão mortal quanto intocável. Eu descobri a beleza, pela primeira vez, através dos olhos de outro alguém, que olhou o horizonte, ao menos uma vez, na mesma direcção que eu.
Fui feliz, fui melancólico, chorei copiosamente por noites e noites, sonhei com nomes e datas, delirei com encontros e enlouqueci com desencontros. Vivi intensamente a magia das minhas descobertas de Homem... De criança.
Até hoje me vejo enternecido ao escutar esta musica, talvez porque ela simbolize a minha imagem de mais belo e puro, diante da vida e dos sentimentos do meu coração.
Descobri que as palavras poderiam ser piegas e também dolorosamente desoladoras, mas encantadoramente belas e reais, como poesias suspensas no céu do outono.

Via o teu rosto enfeitiçado na janela, a verdadeira face "d’angela", como raios de sol os cabelos eram lambidos pelo vento maroto, eu estava ali, contemplando o meu doce veneno e perdendo-me no fel encantado da minha descoberta genuína.